
A ALDEIA
Abrançalha de Baixo é uma aldeia do Concelho de Abrantes, Freguesia de S. Vicente, Distrito de Santarém. Conta atualmente com cerca de 500 habitantes.
A sua proximidade com a sede de Concelho - 2 Km - tem cativado progressivamente mais pessoas a procurarem esta localidade para residir, usufruindo da sua pacatez e da natureza verdejante que a rodeia, onde pontificam pinheiros e eucaliptos.
CONTRIBUTOS PARA O SEU CONHECIMENTO
A Origem do Nome
O seu nome terá origem no nome do Alcaide mouro Abraham Zaid, que dominou Abrantes até à conquista da cidade por D. Afonso Henriques, no ano de 1148. Esta é, também, a perspetiva defendida pelo bispo Fr. João da Piedade, segundo o qual, "É tradição que o nome (Abrançalha) tenha derivado do velho mouro Abraham Zaid, o lendário alcaide"
No entanto, para Campos e Silva, "o topónimo radicará, com maior probabilidade, no da cabeça do Concelho (a que se acrescentou o sufixo -alha). Encontramo-lo já formado e sem variante num documento de 29 de Abril de 1350 (AHCA, SV, 1, 13) [...] - transcrição de um documento de 2 de Setembro de 1317."
(in Campos, E. e Silva, J. Dicionário Toponímico e Etimológico do Concelho de Abrantes. Ed. C. M. Abrantes, 1987).
Abrançalha - Referências bibliográficas
Duas referências a Abrançalha, que se transcrevem de seguida, surgem ligadas, respetivamente, ao ano de 1526 e a meados do século XVIII.
(Abrantes) "tem 2 conventos de frades e 2 de freiras. [...] o Convento dos frades de S. António foi fundado por D. Lopo d'Almeida, 3º Conde d'Abrantes, começando as obras em 1526; era situado no sítio da Ribeira de Abrançalha, no mesmo local em que existira a ermida de N. Sª da Luz. Os frades viveram 45 anos n'este convento, mas por falta de condições hygienicas, ou porque o tempo e a falta d'aceio o tornasse insolubre, o facto é que os frades começaram a pensar na construcção d'outro convento."
(in Portugal Diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, numismatico e artistico Vol I-A, Lisboa, João Romano Torres Editor, 1904: p 19)
"O Marquez de Pombal, que tanto trabalhou para o desenvolvimento da agricultura, da industria e do comércio, logrou animar em Portugal a cultura da seda. Para assegurar uma industria que tanto havia subido na França e na Alemanha, mandou vir d'aquelle paiz 39:357 plantas de amoreiras , que mandou distribuir por um elevado numero de povoações de todas as provincias. Abrantes foi contemplada com 2:897 d'essas plantas que a camara mandou distribuir pelos proprietarios do concelho, sendo o maior numero plantados nas cercanias da villa, e o resto nos campos das Mouriscas, Rio de Moinhos, Ribeira d'Abrançalha e outras povoações."
(Idem, Ibidem: p 20,21)
Mais recentemente, concretamente no final do século XIX, é referenciada já como lugar integrado na freguesia de S. Vicente:
"(S. Vicente) compreende [...] os logares de Fonte do Aipo, Val do Rabão, Moinho dos Cubos, Casal, Abrançalha de Baixo, Abrançalha de Cima, Senhora da Luz, Val de Cerejeira, Val de Fontes, Outeiro da Senhora da Luz, Val de Sta. Catharina, S. Lourenço, Samarra, Chainça, Esperança, Quinta da Minhoca, Quinta da Areia, Val de Rans, Quinta dos Telheiros, Gumeme, Fonte de S. José, Quinta de S. José, Mesas, Aldeia Rosa, Hortas, Bréjo, Ramalhões, Quinta Velha, Taínho, Concavada, Alfarrarede de Baixo, Alfarrarede de Cima, Barca do Pégo, Magdalena, Chão de Vide, Bom Sucesso, Themudas, Olho de Boi, Entre as Ribeiras, Casaes, com uma ermida, Paul; os casaes de Revelhos, das Sentieiras, da Amarella, Branco, do Gaio, das Necessidades, do Val da Vinha, de Alvaro Gil, de Azenha Nova, de S. Miguel, da Quebrada, da Cordeira, e a quinta das Sentieiras."
(in Chorographia Moderna do Reino de Portugal, Vol IV, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876: p 157)
Marcas e Curiosidades
Na periferia de Abrançalha de Baixo, em cada um dos lados da estrada que conduz a Abrantes, podem encontrar-se 2 nichos que indicam o local em que D. Nuno Álvares Pereira e as suas tropas, após rezar missa no Outeiro de S. Pedro, junto ao Castelo de Abrantes, se terá encontrado com o 1º emissário do Rei D. João I, João Afonso de Santarém, quando se dirigia à Batalha de Aljubarrota, decorria o ano de 1385 (mais concretamente em 7 de Agosto).
Estes nichos são considerados Imóvel de Interesse Público, conforme consta na Resolução do Conselho de Ministros nº 51/95, de 1 de Junho.
A Fonte de S. João de Abrançalha
No Verão de 1932, o então alferes Campos "tomou a iniciativa de promover e executar a abertura duma galeria de mina na barreira que fica por detrás da fonte [...]. O alferes Campos, por intermédio do feitor e seu sogro Manuel Valente obteve a aprovação do Ilustríssimo Senhor João José de Castro e Atayde, então proprietário do "Casal da Preta" para que a água finíssima brotasse no nosso fontenário [...]. Encaminhada através da mata em conduta de pinheiro sem casca afim de evitar a alteração que a canalização metálica provocaria na água. Hoje esta fonte é conhecida a sua fama, dentro e fora do país, como água excepcional."
(in Boletim da Liga dos Amigos de Abrantes, ano 22, nº 218, Fevereiro de 1972)
A inauguração do telefone
"Esteve em festa esta povoação para inaugurar um melhoramento de que muito carecia - o telefone. Foi no Domingo passado, vindo a população à estrada, com os alunos da sua escola, uma filarmónica que improvisou com elementos vários mas que tocou muito afinada [...]. Procedeu à inauguração o sr. Major Manuel Machado, presidente da Câmara, benzendo a cabine o Rev. P. Freitas, Arcipreste de Abrantes e Vigário de S. Vicente, freguesia a que Abrançalha pertence. Em nome do povo do lugar falou e muito bem, o sr. Joaquim Rodrigues Chaleira, agente técnico de engenharia [...]. Abrançalha de Baixo declarou-se muito grata com o que já tem: escola, água, e telefone, e deseja um edifício escolar, capela e electrificação."
(in Jornal de Abrantes, ano 57, nº 2898, 29 de Julho de 1956)
A construção da atual escola do 1º ciclo dista do ano de 1960. Na altura, foi constituída uma Comissão para a construção da escola, pois até essa data as crianças frequentavam a escola em Rio de Moinhos.
"A pobreza era quase geral e a bata era usada como uniforme para que todos vestissem de igual, de forma a que não se notasse a diferença entre os muito ricos e muito pobres.
As calças dos pais eram remendadas e tapadas com fundilhos, mas chegava a altura em que já não aguentavam mais remendos e por isso, das partes que ainda restavam, as mães faziam as sacolas para os filhos."
(extraído de trabalho elaborado pela sócia Virgínia Silvério, 2004)
"A Santa Missa foi celebrada durante vários anos em celeiros cedidos por diversas pessoas. Em Maio de 1954, a imagem de N. Senhora de Fátima (do Santuário de Fátima) esteve presente em Abrançalha de Baixo durante 3 dias. Na década de 60, a população juntou-se e decidiram construir uma capela.
O sr. Simão ofereceu uma casa antiga, que antes tinha servido de adega, escola e sala de bailes e daí nasceu a actual capela de N. Senhora de Fátima do Rosário. Fizeram-se festas populares e os lucros eram investidos na construção da capela. Também os donativos e mão-de-obra do povo serviam para esse fim." (idem)
As festas solenes da sua inauguração tiveram lugar no dia 15 de Novembro de 1970.
No interior da capela podem encontrar-se imagens da Padroeira (oferta do Santuário de Fátima e conduzida em peregrinação no dia 8 de Novembro de 1970), a Senhora das Dores (doada pela Srª D. Mª Joaquina estrada), São João (oferecido pela família Loureiro) e Santo António (D. Lucília Simão).
(idem, ibidem)
"Até aos anos 40, as pessoas retiravam a água de poços para beber, para usos domésticos, para dar de beber aos animais e para as hortas, com burros à roda de noras. Foi constituída uma comissão para a construção das fontes. A fonte da Rua Principal1, foi construída em terreno cedido pelo Sr. João Chaleira. Todos os dias os homens vinham da Fábrica do Tramagal2 ajudavam na construção da mesma (abriam mais um pouco das valas para trazer a água do Cabeço do Sr. Ataíde, onde havia uma nascente).
As mulheres iam agora à fonte com cântaros à cabeça, buscar água para beber, para fazer a comida e para usos domésticos e os homens levavam os animais a beber directamente na pia.
Enquanto se enchia o cântaro, trocavam-se ideias sobre a comida e a educação dos petizes.
Enquanto os animais bebiam, falava-se da lavoura e da vida. Esta fonte foi inaugurada em 1949."
(idem, ibidem)

Os Nichos
A inauguração da escola


A Capela de Nossa Senhora de Fátima do Rosário
As Fontes Públicas
1 - A primeira fonte pública construída em Abrançalha de Baixo
2 - Metalúrgica Duarte Ferreira